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A dificuldade de ganhar dinheiro com a renda fixa

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Estamos vivendo um momento inédito na economia brasileira, que tem causado preocupações a boa parte dos investidores, mas principalmente aos que concentravam seus investimentos em renda fixa e não tinham/têm educação financeira para entenderem o contexto atual.

O momento inédito a que se refere o parágrafo antecedente consiste na taxa SELIC atual: 6% a.a., menor nível histórico, com uma forte probabilidade de, até o final do ano, ela cair para 5% a.a.

E o que isso tem a ver com os investimentos em renda fixa? Tudo.

Pois, como a taxa SELIC serve de referência para as demais taxas de crédito/investimentos praticadas no mercado (sendo a taxa SELIC considerada a taxa livre de risco, por ser garantida pelo Tesouro Nacional), os demais investimentos em renda fixa pós-fixados tendem a acompanhar tal variação.

Assim, por exemplo, um investimento no Tesouro SELIC remunera o investidor com uma taxa bruta aproximada de 6% a.a., o que dá pouco menos de 0,50% ao mês. Isso falando em termos de remuneração bruta: dependendo do momento em que o investimento é resgatado, o valor da rentabilidade líquida final cai para valores inferiores a meio por cento ao mês, por óbvio.

Por tabela, praticamente todos os demais investimentos conservadores pós-fixados ao CDI (que na prática também acompanham a variação da taxa SELIC), tais como CDBs pós-fixados ao DI, fundos referenciados DI etc., também seguem esse, digamos assim, “padrão” de rentabilidade.

Trocando em miúdos, se você investir em fundos de renda fixa (da classe de ativos que concentram suas aplicações em títulos pós-fixados), não espere receber algo muito além de meio por cento ao mês bruto, e algo como 0,4% a 0,45% ao mês líquido, dependendo do momento em que realizar o resgate.

Rentabilidade de 1% ao mês? A ilusão da rentabilidade nominal

Muitos que investem atualmente na chamada renda fixa pós-fixada reclamam da época em que era possível ganhar 1% ao mês sem fazer esforço, quando a SELIC estava acima de 12% a.a. – e veja que nem estamos falando de muito tempo atrás, pois a SELIC atingiu a estratosfera dos 14,25% em 2015, somente há quatro anos, em meio à pior recessão econômica de todos os tempos vivida pelo Brasil.

Porém, essa rentabilidade de 1% ao mês era uma rentabilidade apenas nominal, uma vez que a inflação (IPCA), na mesma época, bateu a casa dos dois dígitos (10% a.a.), fazendo com que, na prática, os ganhos reais em investimentos pós-fixados ficasse na casa dos 4% a.a.

O que mais importa para o investidor, seja em qual classe de ativos ele invista (ações, imóveis/fundos imobiliários, renda fixa), mas principalmente para o investidor na renda fixa, não é propriamente a rentabilidade bruta nominal que ele irá alcançar com seus investimentos, mas sim a rentabilidade líquida real, isto é, aquela rentabilidade já deduzidas não só das taxas de administração e imposto de renda, mas também aquela que é obtida após contabilizar a depreciação da moeda pelo efeito inflacionário.

Em outras palavras, o seu investimento tem que aumentar o poder de compra do seu dinheiro investido. Tem que ganhar da inflação.

Se você tinha uma nota de R$ 100 em julho de 1994, no início do Plano Real, e decidiu guardá-la em casa, essa nota valeria hoje menos de R$ 15. Ela compraria hoje apenas uma fração das coisas que poderia comprar há 25 anos.

Porém, se você tivesse investido esses mesmos R$ 100 num fundo de investimento atrelado à SELIC/CDI (afinal de contas, o investimento em Tesouro SELIC não deixa de ser uma proteção contra a inflação no presente), teria hoje mais de R$ 5.500 brutos em seu patrimônio.

O que eu quero dizer com isso é: o valor nominal do dinheiro cai no decorrer do tempo, e a melhor forma de aumentar seu valor é por meio dos investimentos que, em seu conjunto, façam você ter ganhos reais, acima da inflação. É preciso fazer seu dinheiro trabalhar, por meio do trabalho dos juros compostos, bem como do fator tempo, para fazer a massa patrimonial crescer e aumentar o poder de compra ao longo dos anos.

Tá, mas o que eu faço agora que a renda fixa mal paga meio por cento ao mês?

É preciso uma mudança de mentalidade. Uma mudança para entender que estamos vivendo num novo contexto econômico, onde os sinais da crise ainda persistem – economia fraca, milhões de desempregados e sub-empregados, indústria e comércio produzindo aquém de sua capacidade – e, assim, um novo entendimento para assunção de novas tarefas e novos compromissos.

Não falo propriamente de passar a investir mais em ativos de risco, começar a comprar ações etc. etc. etc., que seria a receita de bolo “clássica” para quem pretende melhorar a rentabilidade de seus investimentos.

Você precisa ter em mente algumas coisas agora que a renda fixa está pagando tão mal, ao menos nominalmente e em termos históricos.

Primeiro, você precisa aprender – se é que já não fez isso antes – a cortar custos. Custos dos seus investimentos. Não faz mais sentido continuar investindo suas reservas de emergência em fundos DI que cobram de 0,3% a 1% a.a. de taxa de administração quando você tem opções (desses mesmos fundos DI) que não cobram taxa de administração.

Lembre-se: a rentabilidade é imprevisível, mas os custos não. Eles são sempre fixos. E, quanto mais você puder cortá-los e evitá-los, seja mudando para um banco que tenha tarifas, seja mudando seus próprios investimentos, mais dinheiro retornará para você.

Segundo, você precisa maximizar o valor dos seus aportes. Já que está difícil ganhar mais dinheiro com altas rentabilidades sem correr risco, é necessário que você poupe mais, economize mais, e seja mais frugal. É preciso ser um gladiador dos gastos: cortá-los em sua máxima intensidade.

O tanto que você consegue economizar será tão ou mais importante que o percentual de rentabilidade que você conseguirá obter com seus investimentos.

Eu diria até que o montante dos aportes é o fator mais decisivo para você ter sucesso nos investimentos. Sem querer desprezar a importância de estudar sobre os investimentos, mas pouco adianta você conseguir ter uma carteira de investimentos que lhe renda 1% ao mês se você economiza apenas 1% de seu salário.

Maximizar o valor de seus aportes é aumentar o “gap” entre o que você ganha e o que você gasta. R$ 30, R$ 50, R$ 500 a mais economizados todo mês podem compensar – e com sobras, a depender do capital investido – o tal meio por cento a menos de rentabilidade mensal que você está obtendo na renda fixa.

Pense comigo: suponha que você tivesse R$ 100 mil para investir, que é um valor considerável para boa parte das pessoas. Antigamente (lá em 2015), era possível conseguir uns mil reais por mês de ganho inicial com esse montante, investindo no Tesouro SELIC, CDB DI ou fundo DI, por exemplo – nos meses seguintes os valores vão aumentando, por conta do efeito dos juros compostos.

Hoje, os mesmos R$ 100 mil rendem cerca de R$ 500 no primeiro mês para os mesmos investimentos. Já que tá difícil chegar aos mesmos mil reais de ganhos da época das aparentes vacas gordas na renda fixa, você pode obter os R$ 500 faltantes fazendo sobrar mais dinheiro no seu orçamento.

Você vai empilhando o dinheiro que sobra: vai se capitalizando. Economiza R$ 500 num mês, aí no mês em que receberá a parcela das férias, economiza mais R$ 700; e assim por diante.

Aumentar o valor dos aportes é essencial em qualquer época, mas principalmente em épocas de juros baixos.

Por fim, estabeleça objetivos com o dinheiro, bem como horizontes temporais atrelados a esses objetivos, para que o veículo (dinheiro investido) lhe conduza com segurança aos objetivos não financeiros pretendidos.

Por exemplo, para além do objetivo de ganhar mais, renda fixa, ao menos na sua porção de reserva de emergências, serve para preservação de capital. Logo, numa análise de custo/benefício, e pensando em termos de liquidez e segurança, investimentos atrelados à SELIC parecem ser o caminho mais apropriado para esse objetivo específico.

Conclusão

Os brasileiros, de uma maneira geral, precisam sair da zona de conforto daquela ideia de que renda fixa pós-fixada era sinônimo de alta rentabilidade, alta liquidez, e baixo risco.

Esse trinômio já não mais existe.

Além disso – e pensando já um pouco além – os próprios juros reais estão em patamares bem baixos.

No momento em que esse artigo está sendo escrito (setembro de 2019), o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2024 está pagando IPCA + uma taxa prefixada de módicos 2,95%. E você ainda deve descontar o imposto de renda do cálculo da rentabilidade líquida final.

Com juros reais historicamente baixos, oscilando na faixa dos 2% a 3% a.a., e com a própria taxa SELIC em seu piso histórico, o investidor deve se atentar da importância de reforçar e maximizar os aportes.

A mudança de comportamento não precisa necessariamente vir no campo dos investimentos, até porque nem todos têm perfil e estômago para investir em ações ou em outras classes de ativos de maior risco (embora fosse desejável, ainda mais se há objetivos de longo prazo com o dinheiro investido).

Mas a mudança de comportamento tem que vir necessariamente no campo das despesas. Enxugar gastos, cortar itens desnecessários e adotar um estilo de vida mais simples são itens cruciais para enfrentar esses novos tempos de SELIC a um dígito – e a um dígito cada vez menor. 😉


O post A dificuldade de ganhar dinheiro com a renda fixa apareceu primeiro em Valores Reais.


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