O primeiro quadrimestre do ano de 2016 fechou com resultados bastante positivos para investidores de quase todas as classes de ativos no mercado financeiro. Seja motivado por fatores externos, seja motivado por fatores internos, quem aproveitou a primeira terça parte do ano para fazer seu dinheiro trabalhar por você não tem do que reclamar. Não fosse a inflação que persiste em ficar alta (embora já dê sinais de diminuição), a rentabilidade real seria bem maior. Vamos, então, comentar o que ocorreu durante esse turbulento, mas surpreende, período.
Ações
O mercado de ações foi fortemente influenciado pelo rali do impeachment, cujos efeitos parecem ainda não terem se esgotado, e o resultado está aí: o IBovespa acumula ganhos no ano de 24,36%, chegando próximo ao patamar de 54 mil pontos, depois de ter caído para a região dos 38 mil pontos no começo de fevereiro, e ter alcançado uma recuperação surpreendente nos últimos dois meses.
Em termos psicológicos, é muito difícil não ser atingido pelo “efeito manada”, de modo que pouquíssimos investidores pessoas físicas estavam realizando compras programadas de ações durante o período mais crítico desse começo de ano, entre os meses de janeiro e fevereiro, quando todo mundo estava vendendo suas ações, e a Bolsa parecia caminhar para os níveis do final de 2008, quando chegou ao nível dos 29 mil pontos.
No dia anterior ao pregão em que a Bolsa fechou a 38.596 pontos, eu publiquei um artigo em que disse o seguinte:
“Para o investidor de longo prazo, com uma eficiente estratégia de alocação de ativos, o importante mesmo é saber que, décadas a frente, é muito provável a Bolsa apresentar rentabilidade superior. Além disso, as oscilações negativas são devem ser vistas como oportunidades para comprar mais ações, a preços menores, de forma gradual e com paciência” (sem destaque no original).
Naquele dia, eu – e ninguém – jamais imaginava que a Bolsa pudesse estar 40% mais cara apenas 13 semanas depois.
Eu até posso imaginar o que virá pela frente, caso a Bolsa continue sua escala ascendente: mais pessoas físicas querendo entrar na Bolsa depois dela já ter subido sua maior parte; mais empresas vendendo relatórios de análise de investimentos explorando e apelando para as emoções do pequeno investidor (sobretudo explorando a ganância e o medo); e mais gente comprando caro e vendendo mais caro ainda, e realizando prejuízos ao serem tomados pelo primeiro sentimento de pânico no curto prazo, esquecendo-se de que a Bolsa é, fundamentalmente, um instrumento de investimento a longo prazo.
Se você quiser realmente entrar na Bolsa, faça primeiro o dever de casa: estude previamente uma estratégia para que, ao ser implementada, ela componha apenas parte de seu patrimônio financeiro, com o risco devidamente controlado.
E não há como não apontar, nesse contexto, para o estudo específico dos fundos de ações bem diversificados com baixas taxas de administração, tais como o PIBB11 e o BOVA11. Eles acompanham os movimentos de baixa e alta da Bolsa, mas diluem o risco ao investirem em dezenas de empresas de uma única vez.
Renda fixa
Há alguém mais feliz do que quem investiu em fundos de ações indexados ao Ibovespa (ganhos de 24,36% no ano)?
Sim: quem investiu no Tesouro IPCA+ 2035.
O sujeito que comprou esses títulos no final do ano passado, ou no começo desse ano, está presenciando uma valorização que, encerrados os 4 primeiros meses de 2016, chega a 28,80%.
Outra constatação fácil de ser verificada, vislumbrando-se o quadro acima: quem montou uma carteira de investimentos com um mix de diversos títulos do Tesouro IPCA certamente obteve ganhos superiores a quem ficou investido somente em LCAs e LCIs, ainda que estes estivessem pagando uma remuneração de 100% do CDI líquido.
Aliás, a bem da verdade, não é somente quem investiu em títulos atrelados a inflação que está sorrindo de orelha a orelha. Quem apostou nos prefixados também não tem do que reclamar, pois, com a desaceleração da inflação, aumentaram-se as chances de, num futuro próximo, haver uma redução da taxa SELIC, o que valorizaria os prefixados.
Bom, o mercado já está precificando essa tendência, tanto que há 3 títulos prefixados cuja rentabilidade bruta já ultrapassa a marca dos 20% em apenas 4 meses.
Quem ficou somente com fundos referenciados DI, CDBs, LCIs e LCAs pós-fixadas ao DI, e Tesouro SELIC, ganhou apenas, até o presente momento, cerca de 4% no ano.
Daí a importância de fazer a diversificação também intra classe, ou seja, dentro da classe da renda fixa: porque ela aumenta a rentabilidade da carteira (ao aumentar o grau de risco).
Ainda dá pra pegar carona nos títulos indexados à inflação?
A minha resposta é: sim, ainda dá, embora as melhores taxas, obviamente, já tenham ficado para trás. E não foi por falta de aviso: avisamos, no final de janeiro, que o Tesouro IPCA+ 2035 estava pagando 7,82%. Na época, escrevi o seguinte:
“Para quem tem dinheiro sobrando em caixa, e quer garantir uma excelente rentabilidade contra perdas inflacionárias, essa é um oportunidade que há tempos não se via nos títulos indexados ao IPCA”.
Pois bem. Naquela época, cada título valia R$ 656,53.
Quanto ele custa hoje? Pasmem, R$ 931,67.
Parabéns pra quem adquiriu esse título na oportunidade – e certamente vários leitores do blog aproveitaram essa pechincha.
Dólar
E o dólar, hein?
Depois de bater os R$ 4 no começo do ano, a moeda norte-americana começou um processo de queda livre a partir de meados de março, e fechou o primeiro quadrimestre do ano cotado a R$ 3,44. Comparado com os R$ 4,03 do começo do ano, a desvalorização já chega a quase 15%.
O mais curioso foi ter ouvido e lido, de especialistas do mercado financeiro, quando o dólar flutuava lá pelos R$ 4,00 a R$ 4,10, que seria uma “boa ideia” investir em moeda norte-americana como forma de proteção da carteira de investimentos.
Essas lembranças sempre trazem comigo o seguinte pensamento: em momentos de crise, as pessoas tendem a exagerar os humores, dando recomendações que tendem para o agravamento do comportamento. Exemplos: quando o dólar está muito alto, você certamente irá ler recomendações para comprar dólar – e não para evitá-lo -, “afinal, é uma moeda forte”. Quando a Bolsa estava em baixa, lá na faixa dos 40k pontos, eu cansei de ouvir recomendações para não comprar ações (!!!???), pois a crise poderia se agravar (ora, a possibilidade sempre existirá).
Como eu disse acima, é bem difícil remar contra a maré, e não ser atingido pelo efeito manada na hora de tomar decisões. É preciso ter uma estratégia bem definida de operações, tomada com base em estudos bem feitos, e implementada de acordo com seu próprio perfil de investimentos.
Fundos imobiliários
Apesar da crise que assola o mercado imobiliário, com quedas nas vendas, ausência generalizada de liquidez, e preços cada vez mais baixos, os fundos imobiliários até que estão apresentando um desempenho razoável. No acumulado de 2016, o IFIX, que mede o desempenho do setor, apresenta ganhos de 10,30%.
Conclusão
Porém, todos esses números – 10,30% para o IFIX, 14,25% a.a. para a SELIC, 24% para o IBovespa – não são suficientes para esconder uma realidade perversa para quem tenta fazer seu patrimônio crescer: o efeito inflacionário.
A inflação, apesar de começar a apresentar sinais de desaceleração, ainda está bastante alta: no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA está em 9,39%, praticamente nos 2 dígitos, o que tira, ainda que parcialmente, o brilho dos reluzentes números apresentados pela maioria dos investimentos nesse primeiro quadrimestre do ano.
Como disse o Finanças Inteligentes, ao comentar a inflação no contexto da manutenção da SELIC em 14,25% pelo BC semana passada:
“A trajetória da inflação é o ponto-chave para uma mudança (ou não) do quadro macro brasileiro, independente da variável política, já que a manutenção de um movimento descendente (desinflação) abrirá espaço para um ajuste relevante nas condições monetárias.
Com um sistema financeiro operando taxa Selic de 14,25% desde julho do ano passado e taxa Selic de dois dígitos desde novembro de 2013, pode-se estimar que exista uma quantia relevante de capital empossado em papéis no sistema financeiro aguardando o melhor momento para retornar à economia real através de investimentos.
Esse momento poderia vir com uma melhora nas expectativas para a economia nos próximos anos ou simplesmente com uma queda significativa dos rendimentos conservadores no mercado financeiro (efeito dos cortes na taxa Selic).
O simples fato de não existir mais as elevadas pressões inflacionárias do passado, inevitavelmente contribuirá para melhorar o clima de otimismo, estimulando o consumo e retorno dos investimentos, o que recolocará a economia numa trajetória ascendente”.
Que a economia possa enfim começar a apresentar sinais de melhora daqui pra frente, o que será bom não apenas para o mercado financeiro, mas também para o dia-a-dia das pessoas, embora saibamos que esse processo é longo, e por vezes bastante demorado.
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